MEUS PRÊMIOS
Em “Meus Prêmios”, Thomas Bernhard tece um panorama corrosivo sobre as premiações literárias que participou na Áustria, sua terra natal. Cada capítulo do livro é a respeito de uma delas e não falta ao autor uma observação analítica e extrema mordacidade a fim de desmanchar toda e qualquer hipocrisia e expor as inutilidades que permeiam tais premiações. O autor parte de detalhes corriqueiros para atingir grandes provocações sobre o vazio e o patético de tais eventos, desde políticos que apresentam os prêmios e esquecem o nome dos autores até anfitriões que dormem no evento. Além claro do lado preconceituoso, racista e antissemita do povo e dos escritores austríacos. Ele, que é um dos maiores críticos da Áustria de todos os tempos, diz olhar para o seu povo e enxergar um misto predominante de católicos e nacional-socialistas. O livro possui alguns momentos memoráveis, como o que o escritor compra um terno para receber um dos prêmios e depois da premiação vai trocá-lo pois ficou muito grande e o que ele acaba levando de recordação de tudo isso é justamente o quanto o vendedor foi atencioso com ele. Tem também a experiência que ele teve quando com o valor recebido de um prêmio, ele compra um carro de segunda mão e viaja por toda a costa do país. Ou quando com o valor de outro prêmio compra uma casa em péssimas condições para se “isolar melhor”. Sempre acompanhado da sua tia, que Bernhard não descreve muito bem quem é, porém sabe-se através das descrições que é uma espécie de amiga e figura maternal. O tom conciso e sem concessões do autor nos faz lembrar autores como Kafka e filósofos como Kierkegaard. Um dos poucos autores elogiados por Bernhard no livro é Elias Canetti, que é judeu e não recebe um dos prêmios ao qual Bernhard era jurado por conta disso. Bernhard parte das descrições mais banais e frívolas para tecer a partir delas uma visão mordaz das tradições e patetices dos círculos literários, com sua linguagem repetitiva e intensa formando uma descrição dura e implacável das tais formalidades sociais. Do circo cultural que esconde através dessas cerimônias seus valores e costumes reacionários. Expondo figuras públicas que mal sabem o nome do autor premiado, jurados preocupados mais com as refeições do que com quem deve de fato vencer o prêmio, além do antissemitismo estrutural do país. Outro momento memorável é o diálogo do autor com o físico Werner Heisenberg, que pergunta para Thomas o porquê de os escritores só verem o lado ruim do mundo, o mundo não é apenas isso, diz ele. Ao que Thomas responde com um lacônico e aterrador silêncio. Talvez, seja porque Werner Heisenberg não conhecesse tão bem a Áustria quanto Bernhard.
Meus Prêmios (2009)
Autor: Thomas Bernhard
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