ROGÉRIO SKYLAB E A TELEVISÃO






É com sua ida à televisão que Rogério Skylab se tornará conhecido nacionalmente. A sua primeira aparição midiática se deu no Programa Jô Onze e Meia, em 1994, no SBT. Ao qual, segundo Skylab, foi quase a sua primeira e única aparição, pois ao emitir uma opinião sobre o piloto Ayrton Senna, astro na época, disse a Jô que este “era um peão das multinacionais”. Gerando um mal-estar  sanado apenas pela execução de suas canções. O seu trabalho artístico então ganhou a atenção de Jô e assegurou sua permanência em mais de uma década de aparições na TV.


Antes da popularização da internet, Skylab foi uma estrela dos programas de auditório. Convidado recorrente do Jô Soares e do Danilo Gentili. Ou seja, Skylab sabe do seu poder televisivo. Através do seu comportamento e opiniões excêntricas, porém sempre críticas. Skylab é contundente em suas opiniões e possui sempre um ponto de vista instigante sobre os temas mais diversos. Suas falas são sempre pensadas e de uma opinião política subliminar. Skylab dá muita ênfase na importância da subliminaridade, citando como influência o filósofo norte-americano neo pragmático Richard Rorty.  A Rede Globo desde 1965, começo da Ditadura Militar, domina quase que hegemonicamente os meios de comunicação da sociedade brasileira. Quase que formando, antes da disseminação da internet, uma via midiática de pensamento único. Contudo, Skylab é um grande telespectador da grande mídia e exerce seu poder com o controle remoto na mão. É um telespectador analítico da Rede Globo e emite suas opiniões públicas na internet. Em seu blog, no Twitter e no Facebook.   


Portanto, passar pela Rede Globo sempre foi sinal de prestígio, de ter o seu lugar reconhecido. Ter seu videoclipe veiculado no “Fantástico”, os grandes shows da MPB Clássica: Chico & Caetano. As emissoras de TV são aparelhos industriais, são grandes empresas e quase monopólios. É como o cinema, trata-se do meio industrial, levando o sujeito skylabiano a fazer suas aparições, sempre preservando uma autonomia de pensamento. Sem se jogar a qualquer preço nos braços do urso. Sem se vender para a “folclorização” do artista. O preço de se assinar um contrato com a TV é sempre alto. É o preço de não conseguir retornar mais ao seu papel de artista. É o período da camisa de força ideológica. Tornar-se um eterno personagem de si mesmo. Sem falar, que a televisão é entretenimento descartável. Pouca coisa se salva dos depósitos da Rede Globo. É uma veiculação descartável igual ao jornal. É o oposto da pretensão de um artista que pretenda criar uma obra duradoura, atemporal. 


E quando esse artista é anti-establishment, com um pensamento de esquerda que habita seus quadros. Rogério Skylab vem de uma formação de esquerda brizolista, que ganhará ares lulistas no passar dos anos e das situações políticas do país. Porém, a sua obra artística não é partidária, muito pelo contrário, ela é provocadora de novos horizontes estéticos e do pensamento. Os programas de entrevista tentam vender uma coisa sobre Skylab, ele é outra. Um humorista Skylab, um pensador Skylab e o sempre esquecido músico. Seu principal ofício. É preciso então de dentro da estrutura fazer notar a sua forma mais cruel e desnaturalizada. E é o que ele faz ao vestir o papel de ridículo e expô-lo ao público. Tido genericamente como louco, numa análise superficial. Dentro da estrutura humorística, do preconceito já instaurado, questionar o próprio pensamento humorístico. 


É necessário aceitar a premissa e dentro dela subvertê-la. É o que se propõe Rogério Skylab, é o sujeito skylabiano em ação. Como no filme “Joker” de Todd Phillips, Rogério Skylab é o sujeito que adentra a indústria do espetáculo. O sistema tem brechas, vãos é necessário encontrá-los. Rogério Skylab adentra esses vãos. E um dos seus métodos é tornar o excêntrico e escrachado em sério e real. É transformar a piada em tragédia, o humor em abismo. É levar a sério a premissa do humor, mas instaurar um limite ambíguo. Uma crueza Real. Como nas obras de Duchamp. A ambiguidade de não se levar a sério sendo sério. E tudo isso compõe a sua estética, cujo fundamento é o inominável. 


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